quinta-feira, 10 de julho de 2008


O envolvimento de figuras da indústria do entretenimento com as drogas é fato consumado. Nos anos 1960 e 1970, entorpecentes e alucinógenos eram ingredientes básicos de movimentos da contracultura, como o hippie. Na época, contestar era preciso e as drogas abriam as portas da percepção, como cantava Jim Morrison, do The Doors. Se antes as substâncias ilícitas eram figuras para contestação e combustível para movimentos culturais de grande importância, hoje, no século 21, alcançaram novo significado. Nessa discussão, a cantora Amy Winehouse é a bola da vez. Anteontem, ela agrediu o próprio segurança.

O talento estratosférico da musa do soul inglês foi tomado pelo vício: cocaína, ecstasy, heroína e até mesmo o devastador crack são figuras fáceis no cardápio da diva. No mês passado, foi internada e diagnosticada com enfisema pulmonar devido ao abuso de cigarros e crack. A situação é pouco comum para uma jovem rica e talentosa no alto de seus 24 anos, mas não para ela. Não para Amy Winehouse, a celebridade mais comentada do momento, amada, odiada, reconhecida, respeitada, detonada, podreira, chave-de-cadeia. Enquanto ela se recupera de mais uma crise, os brasileiros podem conferir Frank – o álbum de estréia, lançado em 2003, chegou agora às lojas do país.

Antes do clima “meu mundo caiu” de Back to Black (2006), reconhecido internacionalmente por sucessos nas paradas e diversos prêmios, Amy Winehouse construiu Frank tendo o jazz como principal aliado. Na época, com apenas 19 anos, chamou atenção de maneira discreta da imprensa especializada. A explosão de Back to Black levou os admiradores da cantora a conhecer o primeiro trabalho (em terras gringas, o disco ganhou edição especial com demos, remixes e faixas ao vivo).

O background da jazzística Amy, cujo início no mundo da música veio aos 13 anos, foi pautado no pop e na black music. “Até eu completar 11 anos, escutava o The Immaculate Collection, da Madonna, todo dia. Aí eu descobri a música negra com Salt ‘n’ Pepa e TLC. Foi como ‘Oh meu Deus! Essa é minha música!’. Eu e minha melhor amiga, Juliet, começamos uma banda, a Sweet ‘n’ Sour (Doce e Azedo). Éramos rappers. Eu era a azeda, claro”, contou em entrevista ao periódico britânico The Guardian, em fevereiro de 2004.

Ao alcançar reconhecimento, Amy já chamava atenção pelo temperamento forte e pela franqueza. Pouco depois do lançamento de Frank, ainda em entrevista ao The Guardian, ela desceu a lenha no próprio trabalho. “Nunca ouvi o disco do início até o fim. Nem o tenho em casa. O marketing foi uma merda, a promoção foi terrível. Tudo foi uma bagunça”, criticou. “Algumas coisas nesse disco me fazem viajar a um lugarzinho muito amargo”, contou. Talvez, a superação seja parte de uma tática da cantora para esquecer os problemas. Em entrevista ao tablóide inglês The Sun, em outubro de 2006, ela disse: “Só escrevo canções quando há um problema que não consigo superar sozinha. Aí escrevo uma canção sobre o assunto para deixá-lo para trás”.

A exaustiva promoção de Frank levou Amy Winehouse a um bloqueio: 18 meses sem escrever nada. O hiato criativo teve fim quando a cantora se encontrou com Mark Ronson, famoso produtor inglês. A união entre cabeça e voz gerou o aclamado Back to Black. Em Rehab, o grande sucesso do álbum, Amy diz não à reabilitação. Os copinhos de vinho, que ajudavam a tímida inglesinha descendente de judeus a terminar um show, começaram a multiplicar-se. Enquanto apresentava o trabalho em shows menores e programas de tevê, mais de uma vez, Winehouse, que já havia declarado fumar maconha eventualmente, aparecia com resquícios de pó branco no nariz. A bola de neve estava pronta para aumentar.

Incendiária
O sucesso da carreira era comemorado por noitadas cada vez mais hardcore. O casamento com Blake Fielder-Civil botou ainda mais lenha na fogueira. O companheirismo por vezes rendeu belas cenas, como declarações de amor explícitas durante shows (vide a interpretação de Wake up Alone, no DVD I Told You I Was Trouble – Live in London), mas foi na bagaceira que eles se encontraram. Movidos por boas doses de álcool e drogas, o casal passou a viver, literalmente, “entre tapas e beijos”. Certa vez, saíram de um quarto de hotel completamente destruídos – nele, arranhões e socos; nela, maquiagem borrada e sangue na sapatilha.

Em agosto de 2007, um susto: Amy cancelou alguns shows da turnê alegando exaustão. Nos bastidores, corria a notícia de que ela teria sido internada com overdose após um coquetel molotov de heroína, ecstasy, cocaína, álcool e até mesmo tranqüilizante para cavalos. Três meses após o incidente, a prisão de Blake, acusado de obstrução à justiça num caso de assalto a um pub, transtornou ainda mais a cantora. Por várias vezes, os paparazzi a surpreenderam pelas ruas de Londres, chorando seminua e descalça. Enquanto espera o marido sair da cadeia, mais escândalos. Ao ser flagrada por uma câmera oculta fumando crack e cocaína, decidiu internar-se. Em vão, mais uma vez. No campo profissional, consagrada, levou cinco Grammy na premiação deste ano.

Há pouco, o mundo foi testemunha de mais um vacilo. Em show do Rock in Rio Lisboa, ela errou as letras, apareceu rouca, desafinada, bêbada e mal agüentou-se em pé no palco, tendo que ser amparada por seguranças. O diagnóstico de enfisema e a internação fizeram o mundo pensar que o choque poderia ser eficaz. Amy comemorou a alta do hospital acendendo um cigarro. Poucos dias depois, visivelmente saudável, participou da série de shows em homenagem aos 90 anos de Nelson Mandela. Entretanto, dias mais tarde, no Festival de Glastonbury, desceu do palco e, ao ser supostamente molestada por um fã, fez jus à fama de brigona e distribuiu sopapos ao som de Rehab.

Ao que parece, a saudável e criativa Amy Winehouse parece ter ficado no passado. Numa dessas ironias da vida, em um dos versos de Amy, Amy, Amy, última faixa de Frank, a cantora se pergunta onde está seu paralelo de moralidade. Mal sabia ela que tempos difíceis estavam por vir.

2 comentários:

Unknown disse...

parabéns amor...
fico bem profissional...
x)
=@@@@~~~

Unknown disse...

:D